Quinta‑feira, 17 de Outubro de 1979: um grave acidente de mota.
Um jovem de 18 anos é transportado de ambulância, de urgência, para a Casa de Saúde da Boavista.
Segue‑se uma longa intervenção cirúrgica de mais de oito horas.
Amigos, enfermeiros, família e médicos não escondem a apreensão, estando plenamente conscientes da gravidade e dos enormes riscos do pós‑operatório.
As horas seguintes foram cruciais.
Depois da recomendação de Carlos Lima, Professor Catedrático de Ortopedia da Faculdade de Medicina do Porto, o Enfermeiro‑chefe do 2º andar da clínica privada do Porto chamou de urgência outro Enfermeiro para ficar à cabeceira do doente do quarto número 7.
No dia seguinte, cerca das duas da madrugada, surgiu uma das tão temidas complicações, designadamente a provocada pela perda de sangue durante a cirurgia, a qual resultou posteriormente num choque hipovolémico.
O Enfermeiro, profissional, vigilante, com uma rápida e competente intervenção, salvou a vida do paciente.
Passados 40 anos este é o testemunho público de gratidão e homenagem àquele Enfermeiro, o qual nunca havia conseguido concretizar pelas mais variadas razões.
Desde então continuo a acreditar que sem os Profissionais de Saúde não há Saúde, ou melhor: mais Enfermeiros, mais Saúde.
Hoje, também estão gravadas na minha memória as imagens de jovens e menos jovens enfermeiros a lutar pela dignidade profissional, carreiras e direitos, as quais transmitem renovada confiança no futuro, permitindo uma percepção clara da interiorização da excelência e da aposta na prestação de melhores Cuidados de Saúde.
Em conclusão, e como não poderia deixar de ser, a última palavra é também deles, de cada Enfermeiro, designadamente daqueles que aceitaram dar respostas às questões da minha única e inteira responsabilidade, sem quaisquer limites, os quais nos permitem, a cada um de nós, a todos, perceber ainda melhor o estado da Saúde, em geral, e da Enfermagem, em particular, quer no público, quer no privado.
Com a minha perspectiva, lado a lado com a deles – a exercerem a profissão de norte a sul, nas ilhas da Madeira e dos Açores, sem esquecer aqueles que foram dramaticamente levados, entre outros destinos, a emigrar para o Reino Unido, a Suíça e até para o longínquo Dubai –, certamente será muito mais fácil compreender a situação actual, perceber ainda melhor as aspirações e os anseios dos enfermeiros, bem como alcançar, definitivamente, que sem a participação activa e voluntária dos Profissionais de Saúde nunca será possível avançar com as reformas estruturais, consolidar a melhoria da qualidade dos serviços prestados e estar à altura dos elevados impostos que os cidadãos pagam para ter direito à excelência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que foi criado em 15 de Setembro de 1979.