No “Prólogo” que antecede a biografia de Camilo Castelo Branco intitulada “O Penitente”, de Teixeira de Pascoaes, o escritor afirma: «Se existe em Camilo um escritor romântico [...], existe nele também o ser humano ou metafísico, o interrogador da vida e da morte, e o terrível juiz da Providência» (Pascoaes 2002, 26). Podemos alargar a asserção de Pascoaes dizendo que existe um Camilo que espalha pelas páginas das suas obras um Romantismo em voga, mostrando, a par disso, o mais profundo da alma humana. E foi esta a base deste estudo. Na verdade, parece‑nos que o trágico dos romances camilianos ainda não está suficientemente estudado. Se esse trágico é aproveitado de uma escola literária que o alimentava, Camilo aproveita‑o também para colocar nas suas obras os protagonistas perante sofrimentos que fazem questionar a condição humana, sobre esse martírio que nos parece ser imerecido, enfim, sobre essa morte que arranca da vida seres de excepção.
A produção camiliana é vasta e, tendo em conta a tipologia estabelecida por Jacinto do Prado Coelho (2001), a novela passional é, sem dúvida, o tipo de obra que Camilo mais produziu. Segundo o mesmo autor, a primeira, “Carlota Ângela”, surge poucos anos depois da sua estreia como romancista. Já nela, é possível verificar um aspecto sistemático da sua escrita passional: o sofrimento atroz que recai sobre os protagonistas por verem negado o direito de amar. Os motivos que levarão os protagonistas das várias novelas a este martírio poderão ser diferentes; no entanto, este sofrimento será uma constante ao longo de toda a produção camiliana. (...)