Caso do Rapto Mortal
O homicídio, derivado do latim Hominis Caedes, ou “Homem Caído”, é segundo afirmou Carmignani, a «morte de um homem realizada injustamente por outro homem».
Nas palavras cheias de tarimba dos inspectores da Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária, é o «crime por excelência», aquele, aliás, que «nunca passa de moda».
O homem da rua, ao ouvir a frase foi «cometido um crime», não pensa senão num homicídio, crime que atenta contra o valor humano mais sagrado, que é o da vida, aquele que desde sempre teve maior tutela do direito penal.
Em 33 anos de profissão, enquanto jornalista, esta foi, sem sombra de dúvidas, a melhor, direi antes, a mais difícil investigação da PJ que tive oportunidade de acompanhar. O crime por excelência, crime dos crimes, proibido por um dos dez mandamentos de inspiração judaico‑cristã, teve aqui o seu expoente máximo, conforme é revelado neste livro, um exercício de documentário jornalístico e nada mais do que isso. Não se pretende antecipar qualquer tipo de “julgamento”, muito menos na praça pública, mas somente revelar os factos, tidos como tal, na presente fase processual, de julgamento, o único fórum para julgar os nove arguidos, sete dos quais alegadamente com ligação directa ao crime que vitimou João Paulo de Araújo Fernandes.
Um célebre criminólogo brasileiro dizia que «não há crimes perfeitos, mas crimes mal investigados». No caso do rapto mortal de Braga não foi um crime perfeito, mas um crime muito bem investigado. Com o pormenor positivo da PJ e do MP terem trabalhado em harmonia, além da presença dos magistrados no terreno. E a investigação criminal terminou dentro do primeiro prazo legal, sem prorrogações, nem delongas, o que implicou muitas “directas” de todos aqueles que participaram no processo.
Curiosamente, o rapto do empresário da construção civil, em Braga, a chamada Roma portuguesa, foi cometido, sucessivamente, em pleno Ciclo Pascal, em 2016, com a vítima a ser sequestrada na antevéspera do Domingo de Quaresma e estrangulada um dia antes desse mesmo dia, enquanto as acções de limpeza dos locais dos crimes – transporte do cadáver e a dissimulação – prolongaram‑se para lá do Domingo de Páscoa.
Ao mesmo tempo Emanuel Marques Paulino [bruxo da Areosa] dizia ao telefone que iria incendiar a casa a Henrique Noronha, inspector‑chefe da PJ/Porto, que os investigava, enquanto o “segurança” Rafael Silva (“O’Neill”) lhe respondia: «É melhor do que meter‑lhe uma bala na cabeça, não é?».