Na génese do meu trabalho de investigação, que começou durante o XV Governo Constitucional, liderado por José Manuel Durão Barroso e Paulo Portas, esteve a cobertura noticiosa das alegadas investigações clandestinas sobre políticos e personalidades dos mais diversos quadrantes, que deram origem a uma forte polémica pública. Com a publicação de um primeiro artigo, despertei e tomei consciência da falta de escrutínio público sobre a regulação e a actividade das ‘Secretas’. Desde então, as sucessivas exonerações, demissões e nomeações ao mais alto nível nos Serviços de Informações, bem como a regulamentação de uma estrutura de cúpula, – SIRP –, passaram a ser objecto da minha atenção jornalística, tendo publicado outros trabalhos para dar conta de mais substituições já durante o mandato do XVI Governo Constitucional, liderado por Pedro Santana Lopes.
Após a tomada de posse de José Sócrates, como primeiro-ministro do XVII Governo Constitucional, e ainda antes de ter chegado à conclusão da transferência de um alto quadro da ‘espionagem’ para o seu Gabinete, – José Almeida Ribeiro –, fui tornando pública a devastação fulminante das lideranças do SIED, SIS e DIMIL. Os atentados terroristas, que se sucederam depois do 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, não eram suficientes para explicar uma tal revolução nas ‘Secretas’ portuguesas, apesar de se ter assistido a uma campanha de amplificação sem precedentes do medo e do terror nos Media. Ainda que tolerando, a custo, a tradicional ‘dança de cadeiras’ em lugares sensíveis ao ritmo dos sucessivos Governos, a partir da eleição da maioria socialista atingiu-se um patamar impensável, que imediatamente começou a ser comentado, inicialmente em surdina, nos bastidores do poder. A dimensão da razia foi tal que, contrariamente ao habitual, acabou por saltar, rapidamente, daquele microcosmos para a opinião pública. A grosseria política ultrapassou todos os limites da tradição democrática.
O controlo dos Serviços de Informação sempre foi uma aspiração política de alguns governantes. Durão Barroso e José Sócrates encaixam-se, perfeitamente, neste triste desiderato, de acordo com a minha percepção sobre os seus respectivos perfis pessoais e políticos. De facto, um começou e o outro concluiu uma alteração que deixou os ‘Serviços’ sob a dependência do primeiro-ministro, e com meios para encetar qualquer tipo de acção, repito, qualquer tipo de acção.
O projecto de poder pessoal começou por ser uma pista de investigação válida, mas rapidamente cheguei à conclusão que tinham de existir outras razões para um tal controlo desenfreado, num tão curto espaço de tempo, ao qual não escaparam os Órgãos de Polícia Criminal, entre muitos outros Departamentos do Estado.
Tinha de haver uma explicação. Mas qual? (...)